Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
Posted: domingo, 9 de novembro de 2008 by Jean in Marcadores: Crítica, Devaneio, Filmes, Teorias
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"Feliz é o destino da inocente vestal/ Esquecida pelo mundo que ela esqueceu/ Brilho eterno da mente sem lembrança!".
Olá crianças. Quem não se recorda deste filme? Brilho Eterno de uma mente sem lembranças?
Filme lindo, sob a direção de Michel Gondry e roteiro de Charlie Kaufmann.
O filme é baseado em dois pontos chaves:
- "Feliz é o destino da inocente vestal/ Esquecida pelo mundo que ela esqueceu/ Brilho eterno da mente sem lembrança!".
e também:
- "Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos".
Mas você deve estar se perguntando: Que diabos tem a ver este filme com este blog?
Bom, irei te explicar. Com base neste filme irei lhe mostrar o maravilhoso e trágico universo de um esquecido.
Em primeiro lugar, a trama central do filme. Um casal de apaixonados vive uma intensa aventura, e com a desilusão da realidade e do cotidiano, a donzela da história resolve simplesmente apagar o bom moço de sua memória.
Isso parece familiar?
Casais apaixonados terminam e tentam simplesmente esquecer daquela pessoa que antes era a "dona de seu coração''?
Isso nos remete a Shakespeare :
- Muitos passaram para o outro "amo", pisando sobre o primeiro.
Nascemos sós. Por instinto sentimos necessidade de um "outro alguém", seja por motivos físicos ou emocionais.
E segundo este sentimento, passamos a enxergar o mundo de uma forma particular, peculiar.
Arthur Schopenhauer em seu livro "o mundo como vontade e representação" afirma que tudo o que enxergamos ao nosso redor está permeado pelas nossas crenças e valores. Ou seja, o que você enxerga nem sempre é o mesmo que outra pessoa enxergaria.
Vou ser mais claro: Passamos a enxergar o "ser amado" sob um olhar particular, peculiar.
Você já reparou isso? Que quando estamos apaixonados tendemos a não enxergar os defeitos e erros de nosso amado?
Vivemos uma espécie de Dissonância Cognitiva. Começamos a racionalizar o ilógico. Sempre justificamos e defendemos aquele a quem amamos, mesmo que as provas e circunstâncias nos mostrem que ele realmente não é tudo aquilo que parece ser.
Quando sofremos uma grande dor ou decepção causados pelo nossa Carlota, perdemos completamente o rumo e prumo.
É quando começamos a racionalizar novamente, começamos a perceber pequenas rachaduras naquela que antes parecia uma obra de arte perfeita.
E certas vezes, agimos da forma mais hipócrita possível. Simplesmente decidimos por esquecer a causa de nossa dor e frustração. Será essa mesma a causa de nossa dor?
Isso me remete a um pequeno trecho da obra de Victor Hugo sobre a hipocrisia:
- "Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão". Victor Hugo em "o Sofrimento do Hipócrita".
Por vezes negamos a quem antes louvamos. E desfazemos daquilo que tantas vezes nos fizeram bem.
E por vez ou outra decidimos como a mocinha deste filme, simplismente apagar nosso agora "ex" da memória.
Seria isso justificado? Seria justo?
Valeria a pena apagar juntos com a dor aqueles momentos pecúliares que nos fizeram rir ou chorar de felicidade?
Seria justo esquecer das risadas, surpresas, beijos, abraços, mordidas, cheiros e orgasmos?
Afinal, não seria tudo isso o que nos torna humanos?
Será que não seria simplismente mais facil não se exigir tanto?
Minha teoria:
Nós idealizamos no "ser amado" a figura de nossos próprios desejos e aspirações. Sempre esperamos um beijo a mais. Ou então uma ligação no meio do expediente.
E quando o esperado não acontece, simplismente nos frustramos. E lentamente nos ferimos.
E começamos a sangrar, atal ponto de não termos mais forças. Então desistimos e fugimos.
Será que sempre os erros foram cometidos por terceiros? Ou será que o erro no fim das contas foi nosso mesmo por exigir as nossas expectativas?
Cada caso é único. Circustâncias diferentes com pessoas diferentes e com diferentes pensamentos. Mas no fim, somos todos unidos por esse mesmo sentimento: O amor.
- "Tú amor, tirano de deuses e homens..." Shakespeare
É tambem nele que se desenrola a vida de muitas pessoas, incluíndo este quem vos escreve.
Eu, porém, sigo com minha filosofia:
- "Prefiro sangrar com juras de amor do que viver sem cicatrízes." Pink em Love Song.
E você? qual a sua teoria?